FRASE DO MÊS

Novembro

“Eu existo graças a todos e a tudo”

No boletim anterior, nós refletimos sobre a visão crítica do Budismo acerca da nossa linguagem. Lembramo-nos de que o Buda Shakyamuni, ao alcançar a iluminação aos 35 anos, hesitou em verbalizar sobre o dharma que lhe parecia incompreensível para outros. O Brahma, tomando conhecimento de que o Buda pretendia permanecer em silêncio, o implorou a expor o dharma, ou seja, a lei da causalidade, em palavras.

Tudo surge e se extingue conforme a causa e a condição. Não há nada que seja único, permanente e independente. No contexto indiano, essa declaração significava a negação do atman, ou seja, a alma. E desencadeou uma série de debates sobre uma questão: por que então existimos?

Em busca da resposta a esta questão, o Budismo mahayana, que surgiu na Índia cerca de cinco séculos depois do parinirvana do Buda Shakyamuni, defendeu seu fundamento: o sunya (vazio).

O termo sunya significa que não existe substancialmente aquilo que a linguagem nos evoca. Por exemplo, esse boletim tem dois lados, frente e verso. Então, em suas mãos existem duas coisas diferentes. Aparentemente existe uma clara divisão entre elas. Desta forma, leitores, poderiam separar a frente do verso, raspando um lado só, cuidadosamente? É evidente que isso é impossível, pois não haveria frente sem verso, e vice-versa.

As distinções, que só conseguimos praticar por meio da linguagem, são relativas, mutantes e incompletas para se referirem à realidade em que todos os fenómenos, todos os seres dependem uns dos outros, em todo e qualquer sentido. Nossa condição primordial é a interdependência. Sequer existiria eu sem outros.

Rev. Keizo Doi
Monge Regente do Templo Shin Budista de Brasília