A vida é um breve adeus. Quando eu tinha 12 anos, me internei por uma semana por conta de uma apendicite. No mesmo quarto, conheci uma menina de dois anos. Chamava-se Karin. Com afeto eu a chamava de Karin Tchan, que lutava contra um câncer infantil no fígado.
Ao anoitecer, devido à ausência de seus pais, ela chorava tão intensamente que eu não conseguia mais dormir. Pensei: como lidar com isso?
Depois de várias tentativas, descobri que ela imitava fielmente atos de outras pessoas. Um dia, experimentei dar uma risada diante dela. Ela a imitou, balbuciando feliz. Depois, fingi o choro. Ela fingiu estar chorando para mim. Acertei. Mostrei-lhe o choro e a risada várias vezes, alternando um após outro ato. E ela repetia espontaneamente.
A noite veio. Os pais foram embora. Ela começou a chorar como sempre. Então eu dei uma risada. Ela parou de chorar inventando uma risada inocente. A partir desse momento, ela parou de chorar por conta própria. Afinal, conhecemos a madrugada silenciosa. E os pais, ao ver que a filha aprendera a sorrir, ficaram felizes.
Quando recebi alta, me despedi deles sem saber que essa seria a última vez que os veria. Anos depois fiquei sabendo que Karin Tchan tinha morrido logo depois da nossa despedida. Os seus pais me escreveram uma carta dizendo: que você cresça do jeito que é.
Por um tempo me perguntei se, às vésperas da sua morte, ela teve condições para sorrir daquele jeito como sorríamos. E, afinal, quem aprendeu a sorrir diante da vida tão fugaz?
Rev. Keizo Doi
Monge Regente do Templo Shin Budista de Brasília